dezembro 20, 2008

Vale-de-Vinagre

Hoje estou de coração cheio.
Cheio de imagens, cheiros, sabores, sons, luminosidade e de tudo o que foi a minha infância.





Em fundo, hoje em ruinas,o que antes eram as cavalariças, onde levei grandes lições de sabedoria do Ti Zé Patricio, que não sabendo ler, sabia que amanhã chovia porque o vento...isto sentado em magistrais bancos de azinho muitos deles com apenas tres pés



Sem ter programado nada, levanto-me de manhã e na companhia da Cara Metade e do Buja-Buja, sabendo que havia um evento sobre azeite em Ferreira do Alentejo, lá fomos nós com o intuito de comprar azeite e para desgostar um bom prato da região.
Assim foi, compramos o azeite directamente do produtor na Quinta de São Vicente , propriedade da família Passanha desde 1738.

O 1º objectivo está cumprido, agora á que cumprir o 2º que era mamar um bom prato da gastronomia da região.
Depois de algumas apalpadelas, eis que nos indicam o restaurante o “ TARRO “ no coração de Ferreira do Alentejo, mas havia um problema…o canito que não podia entrar porque as normas…nada que dois dedos de conversa entre dois alentejanos não resolvesse.
Meio agachado o canito que já está habituado a estas coisas, entrou e o que se come??? Aconselhados também de entrada veio uma cacholinha com coentros e alhos, sendo os pratos: 1º um caldo de tomates com bacalhau e a seguir secretos grelhados de porco preto, tudo regado com um vinhito de Pias.

De barriga temperada, rumámos a Beja. Beja, Baleizão e…porque não ir ao monte Vale-de-vinagre ??? Vale-de-vinagre para onde fui menino e de onde sai meio homem…com rumo a Lisboa, finais dos anos 60, como tantossssssssssss muitos.

Á medida que avançávamos, um turbilhão de sensações me assaltam a memória, como o adivinhar a curva da estrada que vinha a seguir, o barranco que ainda é o mesmo ou a subida e consequente descida que fiz tantas vezes a pé, durante os cinco anos que levei a completar a escola primaria.

Uns quilómetros antes do meu destino, havia e há, outro monte de seu nome monte Paço-do-Conde, propriedade da família Ferrão Castelo Branco desde 1928, que antes era uma casa de lavoura hoje, desde lagar até adega, dispõe de todas as condições de produção que uma propriedade agrícola moderna deve ter.
Aproveitando, acabei por comprar umas garrafas de vinho, a um neto do Ferrão que conheci, vinho com casta da herdade de Vale-de-vinagre que antes era de outro e hoje foi anexado pela família Ferrão , aos extensos hectares a perder de vista que já possuíam.


Dirigimo-nos para lá e, bebi cada metro de estrada que íamos galgando.
Dizer mais, é dizer que ouvi as vozes dos meu pais…o xifrim do meu irmão, o esganiçar da minha irmã…o monte que outrora era também de lavoura, hoje continua a sê-lo, mas com uma imponente piscina fazendo parte das suas infra-estruturas, passados que são 40 anos.


Conclusão: nem sequer vou opinar se bem se mal mas…como é que depois de um processo revolucionário e da famigerada…reforma agrária, estas duas família das mais afectadas á altura, renascem das cinzas tendo em conta a ocupação da terra???

Reconclusão: Os ricos apesar de tudo continuam a ser os mesmo, ao pobre se calhar resta-lhes...partir para a desobediência civil???

Mas hoje tenho o coração cheio de imagens, cheiros, sabores, sons, luminosidade e de tudo o que foi a minha infância, passados 40 anos.

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