novembro 09, 2007

Os Maias e os Nossos dias

Ao deambular pelas coisas mal arrumado…nesta maquina diabólica que são os computadores, encontrei uns escritos onde tentava fazer a comparação entre o século XIX e os nossos dias, nomeadamente os Maias e, rezava assim:

A obra em estudo, à luz dos nossos dias, não pode estar mais actualizada, a saber:

- Comparando os vencidos da vida, em estudo, com a sociedade contemporânea, até que ponto não se pode comparar o grupo dos Capitães de Abril como os vencidos da vida dos nossos dias. À semelhança do grupo da Questão Coimbrã? Que discutiram correntes filosóficas, mas acabaram ambos fora do poder de decisão.
Se é certo que o grupo da Questão Coimbrã discutiam correntes literárias, não deixaram de se imiscuir entre o ultra-romantismo e o realismo, que mais não eram do que pensamento políticos. Sendo o Romantismo uma corrente literária mais conservadora, e o Realismo mais liberal, que levaria ao Socialismo Utópico, que à luz dos nossos dias, e grosso modo, poderíamos designar de direita e esquerda.
Frases como: “O Rei surge como a única força que no Pais ainda vive e opera”, que quanto a mim é o expoente máximo do imobilismo a que chegaram os vencidos da vida.
Pode ser comparada à subjugação dos nossos políticos, alguns deles fazendo parte das Conferencias do casino (Cimeira dos Açores) 16/03/2003, que prestam vassalagem aqueles que outrora condenavam e que hoje decidem a seu belo prazer os destinos de outros povos. Como é o caso da tomada de posição unilateral dos Estados Unidos da América no que se refere ao início da guerra do Iraque.
Se nos Maias se fala em banca rota (Cohen), hoje diz-se que os país está de tanga (Durão Barroso), ou ainda em recessão, que traduzido à letra é rigorosamente a mesma coisa, até porque a dependência e dívidas a países estrangeiros continua e, a má gestão prevalece.
O Diletantismo de Carlos da Maia, o novo-riquismo de Damâso a futilidade da Condessa Gouvarinho ou a corrupção em Eusebiozinho, são por demais evidentes, pois não seria difícil mudar os nomes das personagens e manter a estrutura da obra.
Quantos são infelizmente os jovens (João da Ega), que escudados numa vida de trabalho dos pais, não bocejam de tédio, encharcados em vícios e sexo, pulando de Toca em Toca, deixando um lastro de inocentes desprotegidos que por vezes o destino, cá está o destino, se encarrega de juntar, dando origem a dramas como os vividos entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, sua irmã. Para além disso, não dispõem de qualquer tipo de projecto de vida definido e se apostam fazem-no de uma forma megalómana e se erram, nada de mal acontece, como se verificou com o empreendimento de Carlos da Maia no luxuoso consultório e principalmente no laboratório.
No novo-riquismo de Damâso, nem se fala, pois os carapaus alimados, o medronho de Monchique ou ainda a nossa paisagem Algarvia, com a alfarrobeira ou amendoeira, já não prestam, o que é bom, são as pizzas, os hambúrgueres, as coca-colas, as palmeiras plantadas junto à Marina de Portimão (qual Bora Bora), as roupas de marca ou seja, só o que é estrangeiro é bom (Sousa Neto), já para não falar dos sinais exteriores de riqueza, que exprimidos se traduzem em expedientes baratos e denúncias sujas, tal como aconteceu com a venda do artigo (injurioso) ao jornal de Palma Cavalão.

Aqui está outra figura interessante nos nossos dias.

Palma Cavalão, é o que não falta na nossa praça, embora com outros meios e mais polidos, é vê-los rodeados dos mais respeitados senhores, tal como na época, a botar palavra e a escrever as coisas mais absurdas, sobre os mais variados temas, alimentados pelos dandys dos nossos dias, que depois de abrirem as portas das suas vidas, ficam ofendidíssimos com as verdades que não conseguiram esconder, como foram agora os casos mais recentes do escândalo Casa Pia, ou a tramóia da Universidade Moderna, que descobertas tentam a todo o custo calar, até comprar o silencio daqueles que embora de uma forma ignóbil, lançam na praça publica os podres de uma denominada elite, para não lhe chamar pandilha, que resguardados em compadrios, se arrogam no direito de impunemente, espero bem que não, se fazerem passar por paladinos da inocência, tal como aconteceu com Carlos da Maia e Damâso, no que se refere ao incesto anunciado com a sua irmã Maria Eduarda.

Comparar a futilidade da época, com os nossos dias, é pura brincadeira de meninos, pois os fúteis actuais, são fúteis encartados enquanto que os da época não passavam de aprendizes de banalidades.
Se eu, tal como Eça de Queiroz, tivesse o dom das figuras de estilo (adjectivos, advérbios ou metáforas), pintaria um quadro, neste caso negro, enumerando os mais bizarros actos de frivolidades. Mesmo assim, não resisto em dar o exemplo: da senhora chique, tão do agrado de Damâso, que aperaltada de nariz empinado e cheia de salamaleques , se distraiu e não pagou o cabeleireiro, ou ainda o senhor de gravata de seda, mas com sebo atrás das orelhas, que não tendo dinheiro para cumprir as suas obrigações fiscais, pagar a fornecedores , empregados e, carregado de subsídios, obtidos de forma fraudulenta, se pavoneia com o Jipe Xpto, ultimo modelo ou exibe o telemóvel, dependurado à cintura de forma ostensiva, que depois não sabe utilizar.

Nas corridas de cavalos, também somos capazes de encontrar algum paralelo com os nossos dias, pois é ver as badaladíssimas festas do nosso, dito jet-set, em que por vezes o ridículo impera e as cenas de faca e alguidar, tão ao gosto dos Românticos (Tomás de Alencar) se podem encontrar nas Cornetas do diabo, vulgo revistas cor-de-rosa, consumidas avidamente por aqueles que na tentativa de nelas participar (festas), se comportam e regem por padrões desajustados das vidas reais.

No que se refere aos presságios, penso também encontrar alguma similitude, para pior, pois um dos símbolos de presságios descrito por Eça, nos Maias, é o painel com a cabeça degolada de João Batista dentro de um prato de cobre e que tanto impressionou Mª Eduarda, levando Carlos da Maia a tapa-la quando do primeiro acto incestuoso com a irmã. Se comparar-mos este apontamento, com as cabeças decapitadas de crianças Palestinianas, servidas em baixelas de ouro, por algozes sedentos (Heródes), será que tal como Carlos teremos o desplante de esconde-las? E estes actos hediondos que a alguns não impressiona, será que não é um doloroso presságio para os tempos que se adivinham? Isto apesar dos símbolos evangelistas, (religião) que pululam nos nossos dias.

Dizer muito mais do que acima descrevo, seria alimentar ainda mais o pessimismo da sociedade actual, que rejeito fazer, mas as evidencias são tão claras que ao fazer esta analise me levou a pensar que este ciclo da nossa vida social, não é politico, nem económico, mas sim hereditário e assim sendo, a cura para este mal torna-se muito mais difícil, isto partindo do principio que há cura para doenças hereditárias.
Pena é que individualidades como Afonso da Maia, e que felizmente ainda são muitas, pessoa(s) impoluta(s), sejam arrastadas neste mar de banalidades e chorrilhos, que só servem os poderosos em detrimento dos humildes.
Esta despretensiosa comparação, é tanto mais espantosa, se tivermos em conta, que o tempo que separa as épocas em estudo é de dois séculos, que dito assim, não parece nada, mas, se pensarmos que dois séculos são duzentos anos e duzentos anos, à taxa média de vida, ( mais ou menos 70 anos) corresponde a 3 vidas, o caso muda de figura.
Pergunto:
Como é possível que duzentos anos depois e apesar de toda a evolução tecnológica, económica e social, as mentalidades mesquinhas e vazias prevaleçam em prejuízo dos valores morais. Só uma grande obra como os MAIAS, é capaz de nos mostrar essa triste realidade.



Leandro
25 de Fevereiro de 2003

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